segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Só o Abraço.

Ela se sentia num filme do Almodóvar. Assim como o criador de mulheres complexas e inesquecíveis a menina parecia estar dissecando, pela primeira vez, um tipo de universo dos homens que conjugava a sabedoria trágica de um líder com a ciência benevolente de um afortunado. E, com a sua dimensão dramática e humana - a lacuna de um dos bons tipos masculinos: os canalhas.

Como quase qualquer mulher de um clássico filme do diretor, ela estava à beira de um ataque de nervos, seguindo cartilhas específicas daquelas que acabam de terminar um romance. Só que desta vez, parecia ter abandonado sua fidelidade de estilo. Deixou de lado o passado, embora não o tenha esquecido, e encontrou um outro clássico personagem do cinema.

Ficou casualmente com ele, que nunca estaria num filme com ela. Não era o tipo dela, nem mesmo na vida real. Ele fazia o papel perfeito dos que machucam os corações das mocinhas em comédias românticas americanas. O humor inspirado, as mentiras boas de se ouvir, o jeito certo de ser grosseiro e carinhoso. Mas, ao contrário das mentiras que esses filmes contam pras meninas, que crescem na esperança de que amor é capaz de mudar um homem assim, ele era de verdade. E não mudaria. Nem mesmo se aprendesse a amar alguém.

Mas pra ela isso não importava e nem mesmo passava em sua cabeça. Nessa narrativa em meio a histórias de paixões súbitas e não correspondidas, traições e vinganças pessoais tudo ficou mais intenso. Cenas passaram a ser sublimes, imagens que só mesmo o cinema - e cineastas do garbo de Almodóvar conseguiriam criar, estavam ali diante dela.

350 ml vezes 12. Isso foi o que ela bebeu de cerveja. Mais uma dose de vodka. Receita perfeita para o sucesso. Saíram dali e foram pra casa dele. Ficaram. Nunca foi tão ruim pra ela. Não era adepta ao sexo casual, mas essa não era a questão. As coisas não se encaixaram. No mal sentido se encaixaram. Mas, no bom sentido, ela chorou. Lembrou do ex - namorado, viu fotos da namorada dele no quarto e tudo foi ficando pesado. O banal se transformou em extraordinário. O quarto que cheirava a motel, a lágrima que caía do rosto dela enquanto os dois estavam juntos, o que acontecia sob o lençol. Páginas ao vento. Um quebra-cabeça de fotos picotadas.

Lembrou então, de "Abraços Partidos". Era esse o filme que ela parecia estar. As cores vibrantes daquela festa, a trilha sonora pontual e o melodrama sufocante de Almodóvar. E que parecia agora o seu melodrama. Ela pensava nele e em tudo que tinha acontecido de forma muito intensa. Pensava de forma muito intensa porque tudo tinha sido muito raso. Ele pareceu outra pessoa quando amanheceu. Tão superficial, leviano, aparente...

Pra ela, o que tinha acontecido naquele momento podia ser comparado a esse filme. Ela fez o mesmo que o diretor e assim pensou: dizer que Almodóvar errou é uma afirmação um pouco arriscada. Dessa vez ele inseriu a metalinguagem como seu principal motor, fazendo diversas e deliciosas auto-referências. No entanto, o cineasta perdeu o tom em algumas cenas e concedeu um desfecho sem surpresas. E era isso que ela não gostava. Vivia de forma intensa. Encarava as pessoas de forma intensa. Não gostava de histórias mal acabadas e nem de histórias que não precisavam começar. Pra que desfechos sem surpresas? Ela não tinha gostado do filme, e também não estava gostando daquilo que nem mesmo podia chamar de uma história que aconteceu...

Mas, pensou que assim como "Abraços Partidos" não é o melhor de Almodóvar, o que se passou também não precisava ser o melhor. Guardava sempre essa expectativa de que novas experiências precisavam de superação, mas percebeu que a noção de fracasso quando esse "melhor" não vem, é injusta.

Entendeu que mesmo sendo superficial, canalha, ruim de cama, vazio, ela gostava dele. Gostava dele como pessoa. Não tinha nenhum sentimento de desejo, mas tinha afeição. Gostava de conversar com ele. E até sentiu saudade das coisas estúpidas que ele falava. Nunca acreditava nele. Mas quem disse que se precisa acreditar em alguém pra se gostar dela? Sente que aprende alguma coisa com ele, apesar de achar que é ele quem precisa aprender.

No fim das contas, ela acha que ganhou um amigo. E tem certeza de que ele não sente e nem tem idéia disso. Mas ela sente e não costuma desacreditar nos seus sentimentos. Depois de ter ido parar no quarto dele, a única coisa que se lembrou com carinho foi do abraço dos dois. Daquele abraço apertado, acolhedor e partido.

Pensou que essa história passageira e a do filme em si não são lá muito inspiradoras. E se perdem mais ou menos após uma hora de filme e um dia de vida, quando o diretor ou ela, se preocupam demais em criar um gancho dramático para a conclusão.

"Abraços Partidos" se torna um grande filme graças a seus "melhores momentos", e não por seu conjunto, que é desequilibrado. Assim como a vida, que incomoda, pensou ela. A vida dela, a intensidade dela. É alma demais que não cabe no corpo.

sábado, 28 de novembro de 2009

Ela, Ele.

Ele era vinte anos mais velho que ela. Era um sujeito esquisito, baixinho e barbudo. Sua orientação sexual era por demais contestada. Na verdade, não havia nada de contestação. Sua predileção por homens era evidente. Mas isso não impediu que ela se encantasse por ele. A palavra encantasse sempre foi usada por ela, porque apaixonada ela nunca esteve. Era uma espécie de admiração e novidade. Tudo era demasiadamente novo e ela adorava isso.

Contava as horas para chegar àquela aula de segunda-feira. A semana começava de um jeito totalmente diferente com as palavras dele. E recomeçava todas as vezes que ela o encontrava nos corredores. E acabava quando ela não conseguia mais vê-lo. A partir daí ela recontava os dias para chegar segunda-feira de novo.
Quando chegou março e as chuvas apertaram, ela pegou uma carona com ele e, subitamente, como um pingo de chuva que cai do céu, percebeu que o que sentia era, de alguma forma, retribuído. Ele a tratou de forma diferente longe da cosmologia das aulas.

Viraram amigos. Conversas duravam horas. Ela ficava um tanto mais encantada quando ele, naturalmente, falava de todas as coisas que sabia. E não eram poucas. Seus olhos brilhavam quando ele se pronunciava e, dessa vez, ela sentia que era pra ela. E ele, estava confuso. Ele estava apaixonado. Estava com a confusão de quem está apaixonado. Não se sentia atraído por mulheres há muito tempo. Mas, por ela era diferente. Ela tinha essa coisa audaciosa e a flor da pele da juventude, mas tinha algo que a deixava ainda mais atraente. Um “quê” de velhice, dizia ele.

Foi na casa dele que os corpos tomaram outra forma. Diante daqueles inúmeros livros, filmes, quadros. Estavam envolvidos. E ela passou a freqüentar aquela casa em frente a praia sempre que podia. Era uma forma esquisita de se relacionar. Ela achava isso. Os dois queriam discrição. Ela porque era aluna dele e tinha namorado. Ele porque era o professor.

A relação dos dois não envolvia todas as horas do dia. Era limitada ao espaço-tempo daquela casa. Ela descobriu mais que o encantamento. Nunca tinha se sentido tão bem com um homem. Sentia que mandava naquilo tudo. Era ele o apaixonado. Ele a procurava nas horas em que os dois não tinham combinado um encontro. Ele sentia a falta dela. Ela estava nele. Ele era ela. Vestiu-se dela, tornou sua vida uma espera ao encontro dela. Mas ela, apesar de todo encantamento, vivia sua primeira aventura. Não queria perder o doce sabor do que é uma aventura. Mas pra ele esse sabor era amargo. Cansou-se de ser só uma aventura.


Os dois brigaram. Se feriram a fogo. Machucaram-se. Depois de exatos oito meses vivendo assim. Ele queria todas as horas do dia. Ela não.
Ele se arrasou. Ela também. Ficaram quarenta dias sem notícias. Quarenta dias exatamente. E foi no quadrágesimo dia que ela o ligou desesperada e disse que tinha algo sério a dizer. Ele não queria encontrá-la. Não havia nenhum dia em que ele não pensasse nos momentos dos dois. Nas conversas sobre a vida e o amor. Nas vezes em que o amor físico nascia com a trilha sonora que os dois escolhiam. Ela se desesperou.

Ele não agüentou o desejo de encontrá-la e ligou. Mesmo sabendo da menina cruel. Não hesitou em procurá-la num lugar escondido na praia onde os dois costumavam ir. E foi lá que ela revelou que estava grávida. Dele.

Ele queria o filho. Em toda vida, nunca tinha tido coragem de tê-los. Ela não. Pensava em ter filhos mais tarde. Brigaram, ameaçaram, choraram. Ela fez um aborto. Contra a vontade dele. Ele implorou para cuidar do filho sozinho, mas ela não permitiu.
Ele viu no filho um alento para sua solidão. Ela viu uma alma que veio apressada demais.

Distanciaram-se, mas não há uma hora, minuto ou segundo que ela não pense nele. E não há um instante que ele não pense nela. A angústia da separação se tornou sentimento perene.

Ele descobriu que encontrou o amor em sua forma mais pura. Sem preceitos de sexo ou idade. Encontrou o amor pelo amor. Ela também. Mas o destino até agora não fez com que os dois compartilhassem dessa descoberta.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Laila

Acordou feliz, afinal, aquele dia seria uma nova oportunidade de vê-lo. Antes de se levantar da cama já ensaiava os versos que diria quando o encontrasse. Já eram completamente diferentes daqueles que pensou em dizer quando foi dormir na noite anterior. Estava eufórica. Tomou um banho gelado para que o cabelo ficasse mais bonito. Pintou as unhas da cor vinho. Escolheu de forma tão cuidadosa a roupa que ia vestir, que parecia estar cuidando de um bebê recém-nascido. Preocupou-se em combinar o longo vestido com o anel, o cordão e os brincos. Nada podia sair errado. Também cuidou para que os sapatos estivessem bem limpos, assim como as unhas do pé e o anel que colocou no dedinho do pé esquerdo. “Os detalhes interessam aos homens”. Pensava ela. Durante aquele dia sua respiração estava ofegante. Não se viu tranqüila em nenhum minuto. A ansiedade parecia tomar conta de seu corpo de forma que uma leve tremedeira atacava suas pernas.

Três horas antes já estava pronta. Deu uma volta pelo quintal de sua casa, fez sinal para os conhecidos que passavam pela rua, tentou, mas sem sucesso, continuar a leitura de um livro, ligou o rádio para ouvir alguma notícia, mas nenhuma delas interessava. Fez tudo isso de pé, para não amassar o vestido. Tudo isso sob o olhar recriminador de sua mãe.

Depois de três horas, que mais pareciam três séculos, finalmente o relógio apontou duas da tarde. Estava na hora. Foi ao banheiro da casa, onde um espelho meio quebrado serviu para que ela ajeitasse novamente o cabelo, alisasse o vestido e colocasse o pingente do cordão no devido lugar. A menina foi, então, ao portão da casa, pois o seu interior lhe parecia cheio demais. Precisava de um pouco de ar. E ali mesmo, no portão, esperou.

Dez minutos depois lá estava ele.

O caixão era sisudo, marrom com alças douradas, provavelmente de ouro. Lembrava seus ternos, sempre de tom amarronzado e suas jóias de ouro amarelo. Principalmente, aquele enorme relógio de ouro, que ninguém da pequena cidade de Paramaribo sonhava em ter. Talvez nenhuma pessoa do Suriname inteiro tivesse um relógio tão caro e viçoso como aquele.
Laila ficou parada ali em seu portão esperando o cortejo fúnebre se aproximar. Não poderia e nem queria acompanhar, pois a mulher e as três filhas legítimas de Baodin, desde longe já fitavam seu rosto com um olhar de reprovação maior do que aquele de sua mãe.

Não sentia dor alguma. Na verdade, sentia-se muito bem em saber que o homem que a engravidou aos 15 anos de idade e arrancou de seus braços sua filha, logo após seu nascimento, mandando a criança para um país que Laila não conseguia nem pronunciar o nome, estava morto.
Além de não sentir dor, Laila também não sentia nenhum remorso. Gostava da sensação de saber a verdade. Baodin o homem mais importante de toda Paramaribo não tinha morrido de ataque no coração. Não de forma natural como todos pensavam. Lembrou, então, daquele pozinho que comprou na casa de venenos para matar ratos. Aquele pozinho que foi depositado por ela no último café que Baodin tomou. E, por um instante seus lábios se abriram num sorriso torto no canto da boca. Os versos que pensou em falar pareciam inúteis. Aquele sorriso era de maior valor.

Quando o homem que um dia amou perdidamente e com quem teve uma filha passou por ela, naquela caixa de madeira, deixando rastros de poeira pela rua, Laila se recolheu para casa. Tirou o vestido e as jóias e colocou uma roupa simples, confortável, daquelas que usava em casa. E, com uma satisfação que há muito não sentia, voltou a fazer um casaco de tricô que havia começado dois dias antes, cantarolando uma canção em javanês. O inverno estava chegando à capital do Suriname e ela sabia que muitas encomendas estavam por vir.

Por Luciana Chernicharo

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O Homem está condenado a ser livre...

"A dialética de Marx consiste em um modo esquemático de explicação da realidade que se baseia em oposições e em choques entre situações diversas ou opostas..."

Eu não consigo lembrar quantas "filosofias" e "sociologias" já cursei como grade curricular, já que essas matérias estavam no curso de História e Direito. É claro que não consigo amarrar as chuteiras de um bom entendedor da teoria marxista. Mas, tô pronta pro debate...

E uma coisa, além de todos os preceitos (já em contradição com a negação da essência e a materialidade da doutrina), a Dialética Marxista me ensinou:

O mundo está dividido em uma parte de filhos-da-puta e a outra de NÃO-filhos-da-puta.


Tese:
A Xuxa, rainha dos baixinhos, aquela mesma que, estava na televisão enquanto a gente crescia e ainda está enquanto outros pobres coitados crescem, deverá receber indenização no valor de R$ 4,1 milhões por danos materiais e morais da Bandeirantes que veiculou, em programa da emissora, fotos da apresentadora nua tiradas há mais de 20 anos para uma revista masculina. (Lembra da Xuxa pelada com um mulequinho? Então...)


Antítese
Em 2005 uma empregada doméstica foi condenada a 4 anos de prisão em regime semi-aberto por TENTATIVA de roubo de um POTE DE MANTEIGA em São Paulo.Seu advogado pediu liberdade provisória por 4 vezes, mas todas foram negadas. Ele recorreu ao STJ, alegando que sua cliente não tinha antecedentes. Depois de quatro meses, a moça foi libertada. Mas agora, foi condenada a cumprir pena em regime semi-aberto.


Síntese:

É impressionante como a "Justiça" funciona quando se tem bons advogados! A dona da coroa vai receber mais de 4 milhões de reais de indenização por uma foto que ela mesma se dispôs a tirar, quando ainda não tinha visto a coisa preta (anyway) e se tornado famosa! Foi ela mesma que consentiu e, por ser uma pessoa pública, SABE E CORRE OS RISCOS de ter tudo aquilo que fez profissionalmente mostrado quantas vezes for. Mesmo por programas idiotas e sensacionalistas como deve ser esse da Band. É claro que aqueles que deveriam ser IMPARCIAIS na hora do julgamento se amedrontaram diante de uma ré tãoooo famosa e querida, afinal, ela ajudou a criar boa parte dos filhos daqueles magistrados...e ainda tem, a seu favor a maior rede de televisão do país... (tsc, tsc)

Enquanto isso, a Justiça de SP (que diga-se de passagem poderia pertencer a qualquer ditadura que não me surpreenderia, de tão reacionária!!) CONDENA uma mulher de 19 anos, sem antecedentes a uma pena PRIVATIVA DE LIBERDADE. É isso! "Você roubou uma manteiga! É muito perigosa pra nossa sociedade...quem rouba uma manteiga hoje, amanhã está matando."
Não duvido que boa parte do judiciário pense isso...

Mas, onde estava esse juiz quando o professor de Penal dele deu o Princípio da insignificância? Que permite, inicialmente, a exclusão do crime por estar atrelado a bens de tão pequeno valor, que não produzem danos à sociedade? Ahhh, ele também faltou quando deram na faculdade o PRINCÍPIO DA INTERVENÇÃO MÍNIMA que diz que o DIREITO PENAL só deve ser requisitado por uma necessidade mais elevada de proteção à coletividade!

Mas, não..
O pior de tudo é que esse juiz não deve ter faltado a aula nenhuma. Na verdade, deve ter estudado isso tudo direitinho, mas a prova feita por "medalhões do Direito" exige que você, além de Dto Penal, Civil Adm, tenha um "Q" reacionário em seu sangue. As faculdades de Direito estão cheias de pessoas que nunca PENSARAM o Direito, que sentam lá e não fazem mais que aprender a letra fria da lei pra passar em concursos e depois viverem suas vidas bonitinhas ganhando um bom salário do Estado! E além disso, manterem o "status quo"...

É uma troca de favores: "Você aprende direitinho todas as MINHAS LEIS, passa num concurso feito por pessoas que também sabem a MINHA LEI, aplica de forma bemmm certinha e me mantem onde estou. Em contra-partida....recebe um salário."

Obviamente, as coisas não são tão facilmente explicáveis assim, mas a verdade é que eu tenho MT VERGONHA de viver num país onde uma pessoa fica PRESA 4 MESES por tentar roubar uma manteiga, enquanto outra recebe milhões pela sua moral que foi "ofendida" por terem veiculado uma foto que ela mesma consentiu em tirar!!!

Eu vou ser uma ETERNA indignada. Como é que esses juízes conseguem dormir em paz? Eu duvido que eles consigam desvincular a vida do trabalho! Duvido mesmo!! Porque dentro de casa, vejo no meu pai que ocupa a mesma profissão e que ME ENSINOU a lamentar diante dessas injustiças, como a vida pessoal fica atrelada quando se ocupa um cargo que mexe tão intensamente com a vida das pessoas!!! O pior é que esses juízes realmente PENSAM assim.


É essa boa parte de filhos-da-puta que lota todos os dias as cadeias, que esquece de assinar a liberdade de Fulano da SILVA, ou da progressão de regime de Ciclano de SOUZA...

E essas pessoas, com a mão direita, ainda juraram "não faltar à causa da humanidade..."

E eu me pergunto: quando é que o judiciário vai deixar de ser MAIS um meio de exclusão social? Quando é que a "justiça", com todo contra-senso que existe nesse termo, vai de fato dar a cada um o que é seu?

Estamos fadados a viver num mundo de injustiças?
Ainda dá pra acreditar em Marx que disse que o homem está condenado a ser LIVRE?

Não sei...

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Contra-mão

Veja bem, eu nunca disse que não me importava!

Na realidade me importo em demasia. Carrego num saco flagelado e sem alças as mazelas do mundo.

Não sou tão forte assim a ponto de carregar esse mundo, cheio de contradição e insensatez! O que disse foi que a partir desse ponteiro que acabou de mudar de lugar é que quero a vida mais leve.

Por tempos vivi com aquele caminhão de frustração do meu lado. O pneu dianteiro julgava as pessoas dispensáveis demais.

Paremos aí!

Não sejamos relativistas só pras tribos indígenas do Xingu , onde as índias matam os filhos quando eles nascem gêmeos!

Não nasci índia! Não nesta vida! Não quero matar o gêmeo de mim.

O meu gêmeo quer continuar vivo. E livre!

Eu estou aqui e me envolvo! Me custo, me importo. Não aceito acusações! Não quero estar sentada no banco do réu. Não quero reunir testemunhas e fazer parte desse circo inventado chamado justiça particular.

Eu escolho. Só atuo se quiser. Sou agente. Não opero. Transformo.

Andei na mão certa durante muito tempo. Quero agora a contra-mão.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A cidade do sol e a garota real.

UAU! Depois de séculos, aqui estou! Não imaginava que isso existia ainda! Na minha cabeça tinha apagado! Que bom que não...dei risada com os textos bobos que escrevi. Mas, lembrei exatamente o que estava se passando na época. Que bom que hoje as coisas são diferentes! Diferentes MESMO! Tenho 1 ano a mais de vida e já me formei. A Clarinha tá cada dia maior e mais linda! Agora, tudo que ela vê, ela diz: "Que bacana!!!" e todos os bobões morrem de rir...
Ainda não acostumei com a casa nova! Copacabana me faz falta! Talvez daqui um ano, quando voltar a postar, já tenha acostumado!

Deu vontade de voltar aqui. Tudo e nada pessoal. Invenções e auto-biografia. No fim, só palavras.

Por conta de um filme que vi ontem e um livro que tô lendo fiquei pensando: "por quantas pessoas a gente se apaixona na vida?"
O que que é isso de paixão? E amor? No filme que vi o cara se apaixona por uma boneca! Depois de sofrer várias perdas na vida, ele tem vários delírios, e num deles, ele compra uma boneca, dá o nome de Bianca e se apaixona por ela! Mas, tudo que ele queria é ter o controle sobre "alguém". Ele decidia exatamente quando ela ia sair, que roupa ia vestir e, finalmente, quando ela ia morrer. Ele sofreu a morte dela. Foi ao seu velório, mas depois estava pronto pra encarar a vida, de uma forma mais normal, sem muitos delírios, por mais contraditório que isso possa parecer...

Seria bom se pudéssemos controlar a morte daqueles que amamos? Seria bom se pudéssemos esquecer? Seria bom se existesse mesmo um Doutor Howard Mierzwiak, aquele do Brilho Eterno, pra fazer as lembranças desaparecerem?
Não sei.

Talvez.
Se as lembranças pudessem apagar as marcas das coisas que ficaram, os medos que surgiram depois que algo ruim aconteceu, acho que seria bom. Na verdade, verdade...bom mesmo seria ter todas as lembranças, viver tudo, mas não ficar com muitas marcas. Não deixar as coisas abalarem você. É isso! Deveria existir um Doutor Howard Mierzwiak pra isso! Pra levar embora as coisas ruins que ficaram em vc! Não pra fazer um momento ruim desaparecer, pq obviamente, por mais clichê que seja, aprendemos com eles.

Mas, o que isso tem a ver com quantas vezes nos apaixonamos? Com o livro e com o filme?
É que apesar do livro ser sobre mulheres afegãs e o filme sobre um americano com problemas psicológicos, os dois me lembraram o quanto a paixão e o amor são temas centrais em nossas vidas. Quem nunca amou ou se apaixonou está condenado a uma vida infeliz? E os que amam demais?
As mulheres daquele livro nunca tiveram o direito de se apaixonar. Uma delas até se apaixonou, mas a vida quis que ele morresse antes que os dois pudessem provar do amor. E o amor? É diferente da paixão?

Paixão é tão facilmente descritível: "ele vem chegando.....borboletas na barriga, parece que uma mão aperta seu estômago. O rosto fica rosado e quente. Quando é das fortes até uma tremedeira pode afetar o seu corpo só pela presença. Quando ele vai embora, parece que a mão que apertava seu estômago vai afrouxando e, seu rosto voltando ao normal. Isso quando vc não se arrepende de algo que disse ou de alguma atitude, pq quando acontece...é quase, por um fio o fim do mundo! A paixão tem de exageros."

Mas, e o amor? Acho ainda mais fácil. Me disseram: "Quando eu digo que amor é rotina, todo mundo diz que sou fria!". Pensei nisso e concordei quase que instantaneamente. Quando acontece uma briga e vc fica longe, o que mais faz falta é ler aqueles trabalhos todos só pra dar sua importante opinião! É mostrar aquela música que vc acabou de conhecer e que a pessoa precisa conhecer tb! É pedir conselhos, chorar sem vergonha, dormir com a roupa mais velha e furada e se sentir bem! É não ter cerimônias...é acabar a lente e cada um usar uma! Cada um enxerga com um olho só! Mas, enxerga um pouquinho! É isso!!!Acho que o amor é uma caixinha de lentes descartável dividida! E não existe nada melhor...

...

Nos apaixonamos muitas vezes na vida. Por autores, músicas, livros, poemas, pessoas. Quando olhei aquela foto tive a certeza absoluta que estive apaixonada. E que o sentimento não floresceu porque, irremediavelmente, a pessoa nunca mais esteve próxima. Mas, foi mesmo paixão. Não dessas que arrancam árvores e fazem o céu escurecer. Foi uma ESPÉCIE de paixão. Paixão é uma raça! E são tantas as espécies. Era da espécie da admiração e, talvez da família do entusiasmo! Como pode alguém ser tão...tão..."assim"? Era de se fechar a boca, para ouvir tudo que saía daquela outra boca, que nem tão bonita era, mas que tinha uma presença, uma jeito de dizer as palavras, que mesmo que elas saíssem tortas, seria quase imposssível discordar. Uma mistura perfeita de gente que já cresceu e gente que ainda fala um monte de palavrões e, parece, por um instante, estar sentado do lado de cá. E não lá, em pé. Figura perigosa, viciante, misteriosa. Os sinais pareciam corresponder...mas não. Era o jeito de ser! Era isso! Seu jeito de ser exalava aqueles tais sinais da paixão. Não. Não estava apaixonado por ninguém, só tinha um jeito apaixonado de ser. Por isso inspirava paixão. Lembrei daquele jeito apressado de andar, de falar, de expor suas opiniões de maneira tão parecida que as vezes similava um espelho. Por isso, quando olhei aquela foto, que veio pra mim de forma tão inesperada, percebi que estive mesmo apaixonada.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Procura-se um sócio.

O que move as pessoas? Que tipo de energia faz com que a gente acorde todas as manhãs prontos pra enfrentar mais um dia? Não falo de nenhuma lei transcendental, energia cósmica ou vibrações de outro mundo. Falo de força física e mental, de sentimento. Levantar da cama, escovar os dentes, ir trabalhar ou estudar. Arrumar a casa, entrar na internet, escrever.

Fiquei muitos dias pensando nisso. E percebi que, pelo menos, as pessoas em que reparei, são movidas pelos planos individuais, que cada uma faz e que ficam mais fortes quando são divididos com outra pessoa. Uma amiga fez moda e quer abrir uma empresa com a mãe. Além disso, quer casar com o namorado de tantos anos, que está à procura de um emprego público pro tal desejo se realizar. Um outro casal de amigos, farmacêuticos, quer abrir, no futuro, uma farmácia. Minha prima, brasiliense, quer ser delegada e o namorado também. Depois disso...adivinhem? Vão casar.

Fiquei pensando, que talvez nada disso aconteça, que cada plano desse nunca saia do esboço. Que as pessoas desistam de casar, de procurar um trabalho público, de abrir uma empresa ou que achem que ser delegado é perigoso demais.

Mas, na verdade, a realização dos planos, no fim disso tudo, é apenas um detalhe. O caminho disso tudo é que faz a vida ter sentido. Se você acorda de manhã, sem ter um plano, ou vários "planinhos", que podem ser: ir ao mercado, comprar um presente pra alguém, acabar de ler um livro, ir à uma festa, fazer o trabalho que gosta, o tal sentido aparece. Sem mesmo ser notado.

Não ter o "plano" ou esses "planinhos" faz a vida ficar muito chata. Sem sentido. Bom mesmo é ter com quem e com o que se preocupar, acordar e pensar que seu dia vai ser atarefado, cheio de fatos e acontecimentos. Se tudo for assim, os momentos "à toa" são tão mais agradáveis!
O bom da vida é ter com quem dividir um sonho, mesmo que seja morar numa casinha pintada de azul, no meio do mato, com um monte de bicho! Bom mesmo é planejar, percorrer o caminho do plano. Ir... desde que seja pra frente! O bom da vida é ter prazer pra seguir em frente! Não é chegar! É o caminho....